Da mesma forma como todo brasileiro defende que o avião é obra de Alberto Santos Dumont, não há pessoa ligada à comunicação que se atreva a negar os créditos pela invenção do rádio ao gaúcho Padre Roberto Landell de Moura. Hoje ele é considerado o patrono dos radioamadores no Brasil e dá nome a uma fundação educacional. Mas nem sempre foi assim.
Quando realizou seus primeiros experimentos na cidade de São Paulo, em 1893, Padre Landell não recebeu a devida acolhida das autoridades brasileiras. Em 1899, conseguiu transmitir a voz humana por oito quilômetros, da Avenida Paulista ao alto do bairro Santana, zona norte da cidade. Mas a incrível demonstração não conquistou o apoio que o padre desejava, o governo fez pouco caso. Tempos depois, quando finalmente conseguiu patentear seu invento, era tarde demais. O italiano Marconi já o havia feito em 1896, apenas três anos depois das primeiras experiências de Landell. Decepcionado e desacreditado, o padre morreu no anonimato científico.
O tempo passou e tecnologia da radiodifusão evoluiu tanto, que nosso bom e velho rádio já está ficando para trás. Atualmente, com os aparelhos de mp3, mp4, Ipods e, até mesmo no celular, você pode ouvir onde e quando quiser a transmissão das emissoras e uma quantidade de músicas quase do tamanho de uma loja de cds inteira. E é neste ponto que o Padre Landell começa a sofrer mais uma decepção.
Tenho notado a algum tempo um fenômeno que, particularmente, chamo de DJs Amadores Ambulantes (DJAA). Ele ocorre em ambientes públicos, seu local preferido é o ônibus, e não é um privilégio apenas aqui da Capital. Em São Gabriel mesmo já pude observá-los inúmeras vezes. São indivíduos que colocam em seus aparelhos eletrônicos o mais variado repertório de músicas, ligam no volume máximo, e fazem questão que todos a sua volta escutem.
Não consigo entender o que motiva essas pessoas a entrarem em um transporte público, cujo nome já diz tudo, e armar ali sua festa particular. É óbvio que o próprio Padre Landell, do alto de seu sabedoria cristã, diria que não é pecado nenhum escutar um música de vez em quando. Mas os DJAA utilizam a tecnologia criada pelo sacerdote e esquecem de outra invenção muito útil: o fone de ouvido.
Assim como Santos Dumond, que ficou muito contrariado quando os aviões passaram a ser usados para fins de combate, Padre Landell deve estar mais uma vez muito decepcionado com o desvirtuamento de sua descoberta. É pena que a patente original do “pai do rádio” não trazia uma simples e precisa orientação de uso: o seu limite termina onde começa o do outro.
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