sábado, 10 de abril de 2010

Vamos plantar batata!

     A notícia publicada no caderno especial publicado pela Zero Hora, homenagem aos 164 anos de São Gabriel, sobre a possível instalação de empresa produtora de etanol no município realmente confere. Conversei com fontes diretamente ligadas a negociação que dão como praticamente confirmada, aguardando apenas o acerto de alguns trâmites burocráticos.
     As pessoas com que conversei classificam como um negócio de grande volume que vai revolucionar a economia gabrielense, alterar a distribuição de riquezas, e beneficiar os médio e pequenos produtores. Contudo, por diversas questões que envolvem estratégia de mercado, especulação de valores imobiliários, e aprovação de incentivos dos governos municipal, estadual e federal, tudo corre da forma mais sigilosa possível.
     O que se sabia até o momento era que o Executivo estava em contato com uma empresa produtora de etanol a base de batata-doce que pretende se instalar em São Gabriel. A negócio traria consigo a geração de 300 empregos diretos. Depois de uma rigorosa investigação e diversos contatos consegui ir além dessas informações. De acordo com a Secretaria de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SPAE/MAPA), não existe nenhuma empresa cadastrada para a produção de etanol com utilização de batata-doce como matéria prima. Esse tipo de fabricação não chega a ser uma grande novidade, mas até agora permanecia no campo da experimentação.
     A Universidade Federal do Tocantins é pioneira em uma iniciativa para esta forma de produção. O pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da instituição, doutor em Agronomia, professor Márcio Antônio Silveira, desenvolve há mais de dez um projeto para produção de etanol a partir de babata-doce. O estudo resultou no programa “Batata-doce: Bioenergia na Agricultura Familiar”, conduzido em parceria com o Instituto Ecológica, as Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte), o Banco Internacional de Desenvolvimento, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seagro) do Tocantins, Investco e as Prefeituras de Pium e Porto Nacional.
     Segundo a pesquisa, a batata-doce tem menor ciclo de cultivo em relação à cana-de-açúcar (safra de seis meses), maior produtividade (170 litros por tonelada, contra 150 da cana) podendo chegar a 40 toneladas por hectare, e requer solos menos ricos para plantio. Além disso, precisa de um menor volume de água para o plantio. De acordo com o Márcio, a possibilidade de produção em pequenas e médias propriedades, gera oportunidade de inclusão do agricultor familiar. Em 2008, o projeto foi premiado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).
     Trata então, não apenas da simples instalação de uma empresa de grande porte, mas da criação de um ramo industrial inédito, com grandes investimentos na produção de energias renováveis, que pode mesmo mudar a forma como se compreende a economia em São Gabriel e na região. Uma de minhas fontes afirmou que a expectativa para a criação de empregos é bem maior do que os 300 mencionados por ZH. O empreendimento irá se beneficiar pela lei nº 2.617/2002, da Política Municipal de Desenvolvimento Industrial, como apoio que vai desde doação de área até incentivo fiscal. Por se tratar de uma atividade inédita, o Executivo deve buscar recursos junto a Lei de Inovação do Estado.
     Este jornalista, como cidadão gabrielense, torce para o sucesso da negociação. Por isso mesmo, apesar de saber de qual empresa se trata, não vou citar nomes porque não quero prejudicar esse importante investimento no município.
     Certo mesmo é que tem gente que prevê o futuro. Em 2007, foi realizada a Abertura da Colheita do Soja, em Santa Margarida do Sul, como forma de protesto pelo município e São Gabriel terem ficado fora do zoneamento agrícola para o plantio do grão. Na ocasião, um técnico do Ministério do Desenvolvimento Agrário foi bastante franco ao dizer que a região estava fora dos planos do governo federal para este tipo de cultivo, e sugeriu que se investisse na plantação de batatas. Na época todo mundo tomou como ofensa, na interpretação de um duplo sentido para “vão plantar batatas”. Não é que o homem estava certo!

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