sábado, 27 de fevereiro de 2010

Eu sei o que você escreveu no sábado passado

     A prefeitura de São Gabriel solicitou à direção do jornal Tribuna Popular cópias de minhas colunas anteriores. Não sei ao certo se o motivo foi obter as informações que não tinham e eu descobri, ou se o executivo se sentiu ofendido de alguma forma com o que publiquei. De um jeito ou de outro, achei estranho que se tenha solicitado cópias das colunas, uma vez que bastava ir até uma banca e comprar um exemplar. Mas há ainda uma terceira possibilidade. Talvez, o pedido ao jornal tenha por fim demonstrar formalidade. Algo como o título do filme “Eu sei o que vocês fizeram no verão passado”. No meu caso, “Eu sei o que você escreveu no sábado passado”. A questão é que não me assusto facilmente. Aproveito para deixar aqui uma recomendação: aqueles que desejarem ler alguma das edições anteriores, tiverem dúvidas, críticas ou sugestões a me passar, basta enviar um e-mail para o endereço que consta ao final desta coluna.

Mega engano

     Quando o assunto é Mega Sena eu sou o que se pode chamar de apostador olho-grande, aquele que joga apenas nas ocasiões em que o prêmio é realmente alto. Mas o caso do Bolão de Novo Hamburgo chamou atenção mesmo daqueles que nunca fizeram uma aposta. 40 pessoas conferiram os números sorteados e vibraram ao comprovar que tinham acertado as seis dezenas. Mas a máxima de que “alegria de pobre dura pouco” surpreendeu a todos quando a Caixa Econômica Federal (CEF) divulgou que o prêmio havia acumulado. 
     Os apostadores correram à lotérica para esclarecer a situação, mas ninguém conseguia explicar o que havia acontecido. Surgiram então três hipóteses. A primeira era de falha no sistema, que logo foi descartada. Sobraram então as suspeitas de falha humana ou estelionato, que a lotérica teria vendido o bolão e não registrado o jogo para ficar com todo o lucro da vendas.
     A polícia de Novo Hamburgo abriu inquérito e apostou no estelionato. Os bolões eram uma prática de quase todas as lotéricas, e um dono espertinho poderia muito bem tentar levar vantagem. A maioria das pessoas com que conversei a respeito tachou de “a falcatrua mais azarada do mundo”. Entre milhões de jogos vendidos no Brasil inteiro, justo este continha as dezenas sorteadas. Contudo, ficasse confirmado o estelionato, se trataria não apenas de azar, mas também de burrice.
A grande maioria das apostas é de seis dezenas, com chance de acerto de um em mais de 50 milhões (50.063,860). Mas no caso do bolão de Novo Hamburgo o jogo em questão era de oito dezenas, situação em que a probabilidade aumenta para um em 1,7 milhões (1.787.995). Ao não registrar apostas dessa modalidade, o risco de tiro no pé cresce em mais de 48 milhões.
     No fim das contas, o tiro da polícia saiu pela culatra, e o drama serviu para comprovar outra máxima: “errar é humano”. O proprietário da loteria Esquina da Sorte divulgou um vídeo, captado pelas câmeras de segurança do estabelecimento, no qual uma funcionária procura pelo comprovante do jogo e descobre que esqueceu de registrar o volante no sistema. O pai da moça tinha uma cota do bolão, quando ela conferiu os números e ficou sabendo que o prêmio havia acumulado, entrou em desespero.
     Espera-se agora que a Caixa arque com as consequências, uma vez que é o banco quem autoriza as lotéricas a oferecer o serviço e, com isso, deve se responsabilizar por todos os riscos, incluindo uma falha como essa. Contudo, não houve aposta, então a Caixa não seria obrigada a pagar o prêmio de R$ 53 milhões. Mas as pessoas que compraram o bolão devem receber, no mínimo, uma generosa indenização por danos morais. Enquanto isso, os 40 apostadores de Novo Hamburgo terão que arranjar forças em outra máxima: “a esperança é a última que morre”.

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